O aumento na taxa básica de juros a Selic, que saiu de 2% ao ano em março de 2021 para alcançar os atuais 13,75% ao ano, tornou os custos dos financiamentos mais caros e muitos consumidores passaram a optar pelo consórcio para a compra de bens e serviços na tentativa de reduzir o gasto com as prestações.
Cálculos da Mycon, fintech de consórcios, mostram que o financiamento de um imóvel pode custar 90% mais do que a aquisição do bem pelo consórcio. A diferença no caso dos veículos pode chegar a até 80%.
Este é um dos motivos que levou à expansão do setor, com alta de 31,9% no ano passado na comparação com 2021, conforme dados da Abac (Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios). Com isso, o sistema de consórcios administrou ativos na ordem de R$ 459 bilhões em 2022. Essa é a somatória de todos os créditos contratados pelos consorciados ativos ao fim daquele ano.
“Nosso mercado fechou o primeiro trimestre com média de 25% de crescimento, expansão que vem sendo observada nos últimos anos”, diz Rodrigo Coser, head de novos negócios da Mycon.
De acordo com ele, com os juros altos, o setor tem vantagem se comparado ao custo de capital. “O consórcio é uma forma adjacente ao financiamento”, diz Coser ao afirma que os juros baixos levam o consumidor a buscar o consórcio como investimento ou para planejar a compra.
Jefferson Souza, especialista em investimentos da Semeare, explica que o objetivo do consórcio é reunir participantes que realizam pagamentos de acordo com o valor do bem pretendido criando assim um fundo comum.
“Com o recurso do fundo comum, são contemplados participantes ao longo da vida do consórcio. Essa contemplação pode ser através de sorteio ou lance”, comenta.
É importante destacar que o lance pode ser feito de duas formas:
Além disso, no caso do consórcio de imóvel, o FGTS pode ser utilizado para lance.
De acordo com Antonio Azevedo, vice-presidente de Auto/Frota/Consórcio da Alper Consultoria em Seguros, além de ser mais barato adquirir um bem via consórcio, já que nesta modalidade não há cobrança de taxa de juros, o consórcio também é uma alternativa para as pessoas que planejam suas aquisições com custos finais menores que outras formas de endividamentos parcelados.
“O consórcio pode ser usado como um mecanismo de planejamento financeiro, onde a pessoa adquire um bem, sem comprometer o seu orçamento, além de contribuir para o fluxo contínuo de recursos não inflacionários”, avalia o executivo.
O custo do consórcio é taxa de administração, ou seja, não há incidência de juros e sim aplicação de uma taxa. Exemplo, cliente contrata uma carta de R$ 100 mil com taxa de administração de 10%, no final pagará os R$ 100mil + R$ 10mil de taxa de administração + o reajuste.
“O reajuste da parcela e do crédito pode ser um índice da inflação ou algum outro referencial determinado previamente em contrato. É importante ter esse reajuste para garantir o poder de compra no momento da contemplação, pois um imóvel que hoje é avaliado em R$ 500 mil, não valerá R$ 500 mil daqui 10 anos”, exemplifica Souza.
Ele comenta ainda que o consórcio pode ser utilizado em algumas estratégias:
“O consórcio é pensado para pessoas que valorizam seus recursos, por isso, é muito importante se atentar a taxas adicionais à taxa de administração, ponto que pode encarecer e fazer com que esse modelo não seja viável”, aconselha Ricardo Pegnoratto, analista da Top Gain.
Atentar-se a especificação do tamanho limite do grupo, isso interfere diretamente no período e na probabilidade de contemplação. Algumas operadoras chegam a revender cotas que já foram contempladas, o que faz com que aqueles que aderiram primeiro ao grupo sejam lesados, tendo o seu tempo de espera afetado, por aqueles que não poderiam legalmente fazer parte daquele grupo.
Existem algumas formas:
No consórcio não existe a necessidade de entrada, sendo a primeira parcela válida como ativadora do contrato. Essa parcela é igual as demais, que devem seguir o plano ofertado por cada administradora e o cliente deve se orientar no momento da contratação.
Basicamente as taxas são administrativas e existem algumas administradoras que comercializam créditos imobiliários com taxas de 0.30% ao mês. No caso de veículos, por exemplo, existe um custo adicional que é a taxa de reserva e serve para dar liquidez ao grupo, devido ao prazo mais reduzido. Porém, esse encargo em alguns casos é devolvido para o cliente ao final.
“Primeiramente o consórcio é ótimo para pessoas que conseguem ter uma disciplina e saber adiar a aquisição de um bem, para obter maiores vantagens com essa espera. Segundo ponto é a ausência de juros, sendo cobrada apenas uma taxa administrativa que em alguns caso, pode ser de apenas 0.30% a.m”, diz Ricardo Pegnoratto.
Outro ponto a se destacar é poucas pessoas conhecem é que é possível adquirir desde veículos e imóveis, até viagens, cirurgias, equipamentos industriais, crédito para reforma, construção, alavancagem financeira e outros mais.
“O consórcio tem as vantagens de ter menores prazos para pagar, a exemplo de imóveis que chegam a 11 anos e parcelas de até 35% de uma parcela de financiamento”, comenta Ricardo Pegnoratto.
Por outro lado, é importante lembrar que com o financiamento você pode sair com o bem no momento em que assina o contrato. O consórcio depende da contemplação ou lance e isso pode levar tempo. Se você precisa do bem rapidamente, talvez o consórcio não seja a opção indicada.
O prazo é até o encerramento das parcelas, digamos que você contratou um crédito de 100 parcelas e foi contemplada na 20ª, você ainda terá 80 meses para utilizar o crédito.
Existem algumas situações, caso a pessoa se arrependa num prazo de até 7 dias, por lei a administradora é obrigada a devolver o valor sem cobrança de multa.
No caso de você desistir depois de algumas parcelas pagas, algumas administradoras devolvem os valores pagos, mas cobram uma multa. Por isso, é importante verificar essas condições na assinatura do contrato.
Existem casos de administradoras que não cobram multa, mas só devolvem os valores ao final do período contratado de parcelas, sendo esse com juros e correção monetária.
“O mais importante é ficar atento às condições de cada administradora e fuja de condições abusivas”, finaliza Ricardo Pegnoratto.